Friday, July 21, 2006

39. Sobre predicados

“A função do predicado não é mais de estar em lugar de algo, mas caracterizar algo (o objeto de um termo singular) e entender o predicado é entender sua função de caracterização.” (Tugendhat, Lição 11, (p. 135 do inglês).
"A função de caracterização consiste em classificar e distinguir. Expressão que atribui uma propriedade a um objeto. Termo, na lógica tradicional.” (Pascal Engel)
Tradicionalmente, a palavra ou grupo de palavras numa proposição categórica que conota a propriedade que está sendo atribuída ao sujeito ou denota a classe à qual o sujeito está sendo incluído (ou excluído). O termo é frequentemente estendido, nos trabalhos contemporâneos, para cobrir todas as palavras ou grupos de palavras que conotam propriedades ou relações em qualquer tipo de proposição. Assim, em "Todos os homens são mortais", o predicado é "mortal".
Predicado: Um predicado é qualquer expressão que é capaz de conexão com um ou mais termos singulares para compor uma sentença. Um predicado expressa uma condição que as entidades referidas podem satisfazer, em cujo caso a sentença resultante será verdadeira.

38. Holismo

A palavra “holismo” designa qualquer doutrina que destaque a prioridade de um todo sobre suas partes. Na filosofia da linguagem, essa tese se transforma na afirmação de que o significado de uma palavra ou frase individual só pode ser compreendido através de suas relações com um corpo de linguagem indefinidamente mais vasto, tal como toda uma teoria, ou mesmo toda uma linguagem ou forma de vida. De forma semelhante, na filosofia da mente afirma-se que só é possível identificar um estado mental por meio de suas relações com outros estados mentais. Num holismo moderado podemos admitir que, além dessas relações, também contam outras coisas; num holismo extremo sustenta-se que nada temos além de uma rede de relações. Numa concepção holista de ciência afirma-se que a experiência só confirma ou desmente vastos corpos de doutrina: a experiência só colide com as periferias das teorias, e deixa-nos alguma margem de manobra para os reajustamentos que torna necessários. (Dicionário Oxford)

37. Ambiguidade e vagueza

Ambigüidade dos conceitos: É a qualidade de uma expressão ter mais de um significado. Nos casos de ambigüidade lexical a palavra tem mais de um significado. São os casos mais comuns. Alguns casos, apesar de comuns, podem ser mais difíceis de ser compreendidos à primeira vista. Pense: Duas pessoas podem ter o mesmo gosto? Podemos entrar no mesmo rio duas vezes? Duas mulheres podem usar o mesmo vestido? Fazer a mesma faculdade, ter a mesma bicicleta, ter o mesmo namorado, ler o mesmo livro, viver a mesma vida? Sim e não! A expressão “o mesmo” pode ser usada em dois sentidos diferentes: “O mesmo”, no sentido numérico: a amiga tomou emprestado o vestido... É o caso de identidade numérica. “O mesmo”, no sentido qualitativo: as amigas compraram o mesmo modelo... É o caso da identidade qualitativa.
Ambigüidade estrutural: “Todas as garotas bonitas amam um príncipe”
Ambigüidade do tipo processo/produto: podemos considerar certos temas sob dois pontos de vista. Por exemplo, a ciência como processo (como história da ciência) e a ciência como produto (como tendo um ‘estado da arte’).
Vagueza dos conceitos: Expressões vagas são aquelas que dão origem a casos de fronteira. Nesses casos, há incerteza sobre a aplicação da expressão – careca! - pois as propriedades – a intensão - não são adequadamente explicitadas.

36. Intensão e extensão de conceitos

“A extensão de um predicado é a classe dos objetos que ele descreve: a extensão de “vermelho” é a classe das coisas vermelhas. A intensão é o princípio pelo qual os objetos são escolhidos ou, em outras palavras, a condição que um objeto tem de satisfazer para ser corretamente descrito pelo predicado. Dois predicados (“...é um animal racional”, “...é um bípede sem penas”) podem identificar uma mesma classe, mas o fazem por meio de uma condição diferente. (...) Um predicado ou qualquer outro termo ocorre num contexto extensional, numa frase, se puder ser substituído por outro predicado ou termo com a mesma extensão sem que o valor de verdade da frase sofra alteração: se João é um animal racional, e substituirmos “é um animal racional” pelo predicado co-extensivo “é um bípede sem penas”, então João é um bípede sem penas. Outros contextos, como “Maria acredita que João é um animal racional”, podem não permitir a substituição, sendo denominados contextos intensionais.”(Dicionário Oxford)
Intensão (ou conotação): propriedades. A intensão é o princípio pelo qual os objetos são escolhidos ou, em outras palavras, a condição que um objeto tem de satisfazer para ser corretamente descrito pelo predicado. Dois predicados (“...é um animal racional”, “...é um bípede sem penas”) podem identificar uma mesma classe, mas o fazem por meio de uma condição diferente.
Extensão (ou denotação): classes. Num certo sentido, o significado de um termo consiste na classe de objetos a que o termo pode ser aplicado. Este sentido da palavra 'significado', o seu sentido referencial, tem recebido tradicionalmente o nome de significado extensivo ou denotativo. Um termo genérico ou de classe denota os objetos a que pode corretamente ser aplicado, e a coleção ou classe desses objetos constitui a extensão ou denotação do termo” (do livro de Irving Copi, Introdução à Lógica, p. 119).

35. O conceito, conforme Kant

“Todos os conhecimentos, isto é, todas as representações conscientemente referidas a um objeto, são ou intuições ou conceitos. A intuição é uma representação singular (repraesentatio singularis); o conceito é uma representação universal (repraesentatio per notas comunes) ou representação refletida (repraesentatio discursiva). O conhecimento por conceitos chama-se pensar (cognitio discursiva).”
“O conceito opõe-se à intuição, por ser uma representação universal ou uma representação do que é comum a vários objetos e, assim, uma representação na medida em que pode estar contida em várias.” (Kant, Manual dos Cursos de Lógica Geral, Ak91. O conceito, segundo Kant, é uma espécie das representações (Idea, no inglês; Vorstellung, no alemão, repraesentatio, no latim.Note-se a ambigüidade que há entre o representar (representing) e o representado (represented). O primeiro é o estado de consciência, o segundo é o correlato objetivo; entre o conceber e o concebido." (ver Tugendhat, Lição 11, Apêndice).

34. Nietzsche, sobre linguagem e consciência

“Pois, para dizê-lo mais uma vez: o homem, como toda criatura viva, pensa continuamente, mas não sabe disso; o pensamento que se torna consciente é apenas a mínima parte dele, e nós dizemos: a parte mais superficial, a parte pior: - pois somente esse pensamento consciente ocorre em palavras, isto é, em signos de comunicação; com o que se revela a origem da própria consciência. Dito concisamente, o desenvolvimento da linguagem e o desenvolvimento da consciência (não da razão, mas somente do tomar-consciência de si da razão, vão de mãos dadas. Acrescente-se que não é somente a linguagem que serve de ponte entre homem e homem, mas também o olhar, o toque, o gesto; o tomar-consciência de nossas impressões dos sentidos em nós mesmos, a força de poder fixá-las e como que colocá-las fora de nós, aumentaram na mesma medida em que cresceu a urgência de transmiti-las a outros por signos. O homem inventor de signos é ao mesmo tempo o homem cada vez mais agudamente consciente de si mesmo; somente como animal social o homem aprendeu a tomar consciência de si mesmo - ele o faz ainda, ele o faz cada vez mais.” (Nietzsche, A Gaia Ciência, Coleção Os Pensadores, Abril Cultural, p. 225)

33. Um trecho de "O conceito de ironia":

“Com efeito, os conceitos, assim como os indivíduos, têm sua história e, tal como eles, não conseguem resistir ao poder do tempo. E no entanto, por isso e apesar disso, guardam mesmo assim uma espécie de saudade da terra onde nasceram. Assim como a filosofia por um lado não pode ser indiferente a essa história posterior do conceito, assim também ela não pode ater-se somente àquela primeira história, por mais rica e interessante que seja. A filosofia exige sempre alguma coisa a mais, exige o eterno, o verdadeiro, frente ao qual mesmo a existência mais sólida é, enquanto tal, o instante afortunado. Ela se relaciona com a história como o confessor com o penitente, e deve, como um confessor, ter um ouvido afinado, pronto para seguir as pistas dos segredos daquele que se confessa; mas ela também está em condições de, após ter escutado toda a série de confissões, fazê-las aparecer diante do que confessa como uma coisa diferente. Pois assim como o indivíduo que se confessa pode muito bem ter condições não só de recitar analiticamente os feitos de sua vida mas também de relatá-los de maneira amena e agradável, e no entanto não consegue ele mesmo ver sua vida como um todo, assim também a história pode muito bem proclamar pateticamente, em alta voz, a riqueza da vida do gênero humano, mas tem de deixar à mais velha (à filosofia) a tarefa de explicá-la, e pode então desfrutar da alegre surpresa: no primeiro instante quase não quer reconhecer a versão elaborada pela filosofia, mas vai se familiarizando pouco a pouco com esta concepção filosófica, até chegar finalmente a encará-la como a verdade autêntica, e o outro lado como mera aparência.”
(Soren Kierkegaard. O Conceito de Ironia. Petrópolis, Vozes, 1991. Tradução de Álvaro Valls)

32. O conceito de “conceito”:

“Conceito é aquilo que é compreendido por um termo, em particular um predicado. Possuir um conceito é ter a capacidade de usar um termo que o exprima ao fazer juízos; essa capacidade está relacionada com coisas como saber reconhecer quando o termo se aplica, assim como poder compreender as conseqüências de sua aplicação. O termo “idéia” foi inicialmente usado da mesma maneira, mas é hoje evitado devido a suas associações com as imagens mentais subjetivas, que podem ser irrelevantes para a posse de um conceito. (Dicionário Oxford).
"Conceitos são princípios de classificação e a eles correspondem, na linguagem, os assim ditos termos gerais ou predicados que correspondentemente podem ser chamados de expressões classificatórias" (E. Tugendhat)
“Conceitos são interdependentes. Em especial isto vale para aqueles conceitos que devem ser tematizados na filosofia. (...) O emprego das expressões linguísticas correspondentes a tais conceitos forma, pois, por isso uma rede, e precisamente esta rede que deve ser esclarecida pela filosofia." (E. Tugendhat, Reflexões, p. 7)

Wednesday, July 12, 2006

31. Algumas observações adicionais sobre a proposicionalidade

a) Todas as línguas naturais, todos os idiomas tem esse tipo de estrutura;
b) As linguagens dos demais animais são linguagens de sinais, que são ligados a uma situação. Na linguagem proposicional, mediante as orações predicativas, o falante e o ouvinte podem relacionar-se a algo que é idêntico para os dois; eles se entendem sobre a mesma coisa. Esta “coisa comum” não existe nas linguagens das demais espécies animais. Para elas, a comunicação consistem em uma transferência unilateral segundo o esquema de estímulo e resposta. Na linguagem proposicional, a tomada de posição com o sim ou o não ocupa o lugar destes estímulos e respostas. Essa “coisa comum” que é entendida pelo falante e pelo ouvinte pode ser algo que não tem nenhuma relação com a situação de fala;
c) As formas da tomada de posição sobre o conteúdo proposicional podem ser o sim ou o não, a abstenção, a pergunta, dúvida, reflexão, etc;
d) Sobre o papel do signo lingüístico: o signo adquire uma função fora da situação de comunicação; surge o “pensamento”, no sentido dado pelo filósofo Frege. Hoje se acentua muito a dimensão de comunicação da linguagem, mas esta dimensão parece obscurecer a outra: com a aquisição da linguagem proposicional, surge uma função extra-comunicativa;
e) A pergunta por razões; na reflexão prática e na reflexão teórica nos perguntamos o que fala em favor e o que fala contra do que é dito em uma oração; isso é o “perguntar por razões”. Isso nos conduz a uma concepção mais simples sobre a natureza da racionalidade humana. Ser racional significa ter a capacidade de refletir, significa a capacidade de perguntar por razões. Na reflexão teórica: o que é o verdadeiro? Na reflexão prática: o que é bom ou melhor?
f) Aqui surge a pergunta sobre o mecanismo lingüístico que permite surgir a “independência da situação” que caracteriza a linguagem proposicional. Isso nos obriga a entender melhor a noção de “termo geral” (predicado) e “termo singular”.

30. Características da linguagem proposicional

São estas as principais características da linguagem proposicional:
1. As unidades significantes elementares da linguagem proposicional são as orações predicativas; elas constam de um predicado (um “termo geral”) e de um ou mais termos singulares;
2. Estas orações (e também orações mais complexas) aparecem em vários modos, basicamente o assertórico e o prático (imperativos e orações que expressam desejos e intenções);
3. As orações predicativas podem ser negadas e isto significa que os interlocutores, tomando posição com um sim ou um não podem tomar atitudes com respeito a elas, e, deste modo, um em relação ao outro. (Cf. Ernst Tugendhat, Egocentricidade e Mística, p. 18)

Monday, July 10, 2006

29. A definição de “proposição”.

Veja a definição de “proposição” que se encontra no Dicionário Oxford: “Aquilo que é proposto ou declarado; o conteúdo de uma frase declarativa, suscetível de ser verdadeira ou falsa. Apreender uma proposição é compreender o que é dito, suposto, sugerido, etc. A mesma proposição é expressa por quaisquer duas frases, da mesma ou de diferentes linguagens, que sejam sinônimas, ou corretamente intertraduzíveis (sendo a tradução, neste caso, avaliada independentemente do tom, do ritmo e de outras implicaturas). (...) Para alguns filósofos, as proposições são os portadores primários de verdade e falsidade, sendo as frases verdadeiras ou falsas apenas de forma derivada, em virtude de exprimirem proposições verdadeiras ou falsas; mas para outros, as proposições são sombras duvidosas daquilo que é empiricamente dado: elocuções em contextos específicos.”
Talvez até este momento você tenha dificuldade em fazer a distinção entre o que chamamos de “pensamento”, no sentido proposicional, e “pensamento”, no sentido da psicologia popular. No segundo caso, temos em vista todo o universo pessoal de imagens e associações que fazemos, quando pensamos em algo; para compreender melhor esse ponto convém reler o trecho final do texto de Ernst Tugendhat, “Frase, Frase Enunciativa...”.
Façamos um exercício. Você diz para alguém que a casa dele está pegando fogo. Veja: trata-se de um enunciado, da apresentação de um certo estado das coisas, de um certo “estado de coisas”. Lembre de Aristóteles, do “apofântico”. A pessoa pode ter, diante dessa apresentação/estado-de-coisas-pensamento-proposição, as mais diversas idéias/reações-de-pensamento-pessoal. Nenhuma delas muda o ‘estado-de-coisas/pensamento-proposição/apresentação’ em questão; a menos que ele seja falso, que você queira apenas pregar um susto na pessoa.

28. "Verdade" e "conteúdo"

Alguns filósofos pensam que podemos distinguir entre o conteúdo nas diversas sentenças ou orações, que chamamos de ‘conteúdo proposicional’, e o ato de fala que é realizado em cada caso, a ‘força assertórica’. Com isso podemos resumir o ponto em questão: os filósofos costumam dizer que o problema da verdade ou falsidade diz respeito ao ‘conteúdo proposicional’ ou à ‘proposição’. No texto de Ernst Tugendhat que você leu, esta expressão, ‘proposicão’, é considerada, para efeitos de introdução ao assunto, equivalente a ‘estado de coisas’, ‘enunciado’, ‘pensamento.

27. Conteúdo proposicional e modo

Considere as seguintes situações: a) você informa que seu gato está dormindo no capacho; b) você pergunta se seu gato está dormindo no capacho; c) você pede a alguém para colocar seu gato a dormir no capacho. Destas três situações seria possível dizer o seguinte: em todas elas há um mesmo conteúdo (proposicional): o cato está no capacho; na primeira delas, você informou isso; na segunda você pergunta se ocorre alguma coisa; na terceira, você pede para alguém fazer acontecer algo, a saber, que o gato venha a estar no capacho. Dizemos que essas três situações correspondem a três distintos modos: indicativo, interrogativo, imperativo. Uma outra forma de se referir a esse fenômeno é dizer que temos um mesmo conteúdo propocional com diferentes forças assertóricas.

26. Nota sobre "verdade"

Um dos tópicos mais discutidos na Filosofia é sobre a “verdade”. A abordagem que estamos fazendo nas aulas de Filosofia da Linguagem não consiste em perguntar por uma definição dessa palavra. O caminho que escolhemos consiste em perguntar sobre que tipo de coisa costumamos dizer ou chamar de “verdade”, “verdadeiro”. Quando fazemos essa abordagem, evitamos a armadilha de pensar que “verdade” é um certo tipo de coisa, uma entidade misteriosa, que pode existir ou não.
Uma resposta possível consiste em dizer que verdadeiras ou falsas são as sentenças ou orações de uma língua natural. Mas “oração” e “sentença” são conceitos da gramática normativa de uma língua natural, e se dizemos que a verdade é uma propriedade das orações estamos transportando o problema filosófico da verdade para o nível lingüístico. Como vimos em aula, uma oração da língua portuguesa, bem formada sintaticamente, não pode ser, por si só ou em si mesma, nem verdadeira nem falsa. Na verdade, quando uma sentença é considerada isoladamente, nem sempre sabemos como compreendê-la, em razão da ambigüidade, por exemplo. “Voar aeronaves pode ser perigoso” é uma frase que pode significar que ser piloto é uma profissão de risco ou que os aviões pode ser perigosos quando estão voando. Por outro lado, quando uma pessoa, um uruguaio, em Rivera, diz, em castelhano, que está chovendo e seu amigo de Santana do Livramento, ao seu lado, diz em português que está chovendo, ambos disseram “a mesma coisa”, em línguas diferentes, ambos falaram a verdade, pois está chovendo, mas a verdade do que disseram nada tem a ver com a língua castelhana ou com a língua portuguesa.

Wednesday, July 05, 2006

25. Para saber mais

Há uma tradução para o espanhol do livro de Max Scheller, El Puesto Del Hombre em el Cosmos. É possivel que tenha saido uma tradução para o português também.
Há ao menos um livro, em português, de Susanne Langer. Chama-se Ensaios Filosóficos, publicado pela Ed. Cultrix, em 1971.
Ernst Cassirer tem outros livros publicados em português; em especial destacamos a tradução recente do seu clássico, Filosofia das Formas Simbólicas, pela Ed. Martins Fontes.
(OBS: Estas anotações são para uso interno na disciplina Filosofia da Linguagem, do Curso de Filosofia da Universidade Federal de Santa Maria.)

24. O conceito de crença: Gareth Evans

O conceito de crença pode ser considerado um conceito primitivo, básico, na caracterização do ser humano. O filósofo Gareth Evans sugere que o conceito de informação é uma alternativa melhor, argumentando que estar em um certo estado informacional não significa ter que acreditar naquilo. Transcrevo algumas passagens do capítulo 5 (Informação, crença e pensamento do livro Varieties of Reference), no qual ele procura caracterizar o que chama de nosso “sistema informacional”, considerado por ele como o substrato de nossas vidas cognitivas, cujos componentes principais são a percepção, a comunicação e a memória:
“Quando uma pessoa percebe algo, ela colhe (gathers) informação acerca do mundo. Mediante a comunicação, ela pode transmitir essa informação a outras. E qualquer porção de informação em sua posse em um certo momento pode ser retida por ela até um certo tempo posterior. As pessoas são, em resumo e entre outras coisas, transmissores e estocadores de informação. Essas platitudes localizam a percepção, a comunicação e a memória em um sistema – o sistema informacional – que constitui o substrato de nossas vidas cognitivas. (122)” “Em geral, parece-me preferível tomar a noção de estar em um estado informacional com tal-e-tal conteúdo como uma noção primitiva para a filosofia, ao contrário do que tentar caracterizá-lo em termos de crença.” O fato do sujeito estar em um estado informacional é independente de se ele acredita ou não que o estado é verídico.”) E o fato de estarmos no estado informacional apropriado por alguém nos ter contado uma história não depende da gente acreditar que a história é verdadeira.” (123)

23. Filosofia da Linguagem e Epistemologia.

Os temas da Filosofia da Linguagem fazem fronteira com outras áreas da filosofia, como a Ontologia e a Epistemologia. Vejamos um dedo de prosa sobre a fronteira com a Epistemologia. Conceitos centrais na Epistemologia são os conceitos de crença e conhecimento. A maior parte dos filósofos considera-os como sendo estados ou disposições da mente. O filósofo Quine, no livro A Teia da Crença, escreve:
“Acreditar não é uma ação. Acreditar é uma disposição que pode permanecer latente e não observada. É uma disposição de responder de certas formas quando o tema apropriado surge. Inculcar uma crença é como carregar uma bateria. A crença, como a carga, pode durar bastante ou pouco. Gramaticalmente, o verbo “acreditar” é transitivo, como chutar ou dirigir. Dizemos “Ele acreditou naquilo” da mesma forma como dizemos “ele chutou-a”, “Ele dirigiu-a (a moto). Esta circunstância poderia nos tentar a pensar a crença como uma ação, coisa que ela não é. Mas ela pode ainda levantar uma questão filosófica sobre a natureza dos objetos da crença. O objeto chutado pode ser uma bola ou um asno. O objeto que dirigimos pode ser um carro ou um asno; mas qual o tipo de objeto em que acreditamos? Evidentemente, é algo intangível. É algo nomeado mediante a prefixação da palavra “que” a uma sentença subordinada.
Acreditamos que Aníbal atravessou os Alpes.
Acreditamos que Netuno é um planeta.
Que tipo de coisa é essa coisa acreditada - que Anibal atravessou os Alpes? Parece enganoso dizer que é apenas a própria sentença. Afinal, alguém que não fala português pode acreditar na mesma coisa. E se acreditamos que uma determinada sentença afirma algo verdadeiro, qual a natureza dessa coisa que estamos acreditando?”
O que é acreditar em uma sentença? E o que é a sentença que dizemos acreditar? Há uma relação muito especial entre crença, sentenças e “verdadeiro e falso”. Veja como o filósofo Arthur Danto introduz esse tema:
“Uma crença não é um mero estado da mente ou da alma, uma marca inerte. Quando um homem acredita em algo, ele está disposto, geralmente, a agir de uma certa forma, ou em certas formas. Se acredito que minha filha está em perigo, não se trata de uma questão de dar uma resposta afirmativa para a pergunta sobre se eu acredito que minha filha está em perigo. Toda minha maneira de agir está implicada, e todas as minhas crenças fatuais relevantes são ativadas. Se eu sei que ela não corre perigo, mas mesmo assim me comporto como se estivesse, minhas ações estão em descompasso com os fatos. Isso, porém, para começar, desmorona todo o propósito de ter crenças. Uma crença é tão boa ou tão ruim quanto outra se não vamos nos importar se ela se ajusta aos fatos como os conhecemos. Nesse caso não vamos mais considerar a verdade ou a falsidade como relevantes para nossas crenças. Mais uma vez, porém, não fica claro o significado de ter uma crença se consideramos que sua verdade ou falsidade não são relevantes.” (Danto, Arthur. Crenças Fatuais e Regras Morais. In: Misticism and Morality).
Ser verdadeira ou ser falsa é uma propriedade de sentenças, e não de coisas.
A questão da relação entre Linguagem e Epistemologia é bastante complexa. Em Epistemologia há sempre um grande capítulo para a discussão do conhecimento proposicional. O “conhecimento proposicional” é aquele que pode ser expresso na continuação de uma frase do tipo “Eu sei que p”, isto é, em uma sentença descritiva ou informativa em língua natural. Como se relacionam conceitos como crença, linguagem, informação, proposição?

22. A rede do simbolismo

É possível então dizer que o homem não vive apenas no meio-ambiente da natureza? Isso parece ser assim. Cassirer resume o ponto da seguinte forma:
“Não estando mais num universo meramente físico, o homem vive em um universo simbólico. A linguagem, o mito, a arte e a religião são partes desse universo. São os variados fios que tecem a rede simbólica, o emaranhado da experiência humana. Todo o progresso humano em pensamento e experiência é refinado por essa rede, e a fortalece. Envolveu-se de tal modo em formas lingüísticas, imagens artísticas, símbolos míticos ou ritos religiosos que não consegue ver ou conhecer coisa alguma a não ser pela interposição desse meio artificial. Sua situação é a mesma tanto na esfera teórica como na prática. Mesmo nesta, o homem não vive em um mundo de fatos nus e crus, ou segundo suas necessidades e desejos imediatos. Vive antes em meio a emoções imaginárias, em esperanças e temores, ilusões e desilusões, em suas fantasias e sonhos. ‘O que perturba e assusta o homem’, disse Epíteto, ‘não são as coisas, mas suas opiniões e fantasias sobre as coisas”.
“A partir do ponto de vista a que acabamos de chegar, podemos corrigir e ampliar a definição clássica do homem. (...) Em vez de definir o homem como animal rationale, deveríamos defini-lo como animal symbolicum.” (pp. 48-50)

21. Linguagem proposicional e objetivação

Transformamos uma coisa em um objeto quando colocamos essa coisa diante de nós a uma certa distância, sem uma posição prévia de aceitar, negar, duvidar, etc. Isso somente pode ser feito por seres humanos. Para compreender como isso acontece, precisamos prestar atenção a uma característica central da linguagem humana. A linguagem humana é estruturada. Ela dispõe de uma estrutura do tipo sujeito-predicado que torna natural para nós falar das coisas: isso significa que para nós as coisas são objetos de predicação. Assim, na estrutura da linguagem, podemos verificar essa objetivação.
O ser humano não objetiva apenas as coisas, mas também a si mesmo. Nós fazemos de nós mesmos objetos de deliberação. Estamos fazendo um certo curso na Universidade, escolhido por nós. Um dia nos damos conta que não estamos nos sentindo bem naquele curso, e passamos a nos perguntar se devemos continuar. Da mesma forma podemos nos perguntar se queremos continuar com o hábito de fumar ou com o namoro ou com a cerveja ou com a preguiça de fazer exercícios. Nós nos colocamos em questão, em deliberação. Enfim, nos transformamos em objeto de nossa deliberação.
Isso é bom ou ruim, do ponto de vista da evolução? Ter essa capacidade de perguntar por razões é algo biologicamente com sentido? O que representa para a espécie humana essa capacidade de perguntar por razões? Não dispomos de um saber empírico seguro sobre como nossa espécie se desenvolveu. Nesse assunto podem ser feitas muitas hipóteses. Mas podemos ver com clareza que se uma espécie tem a capacidade de olhar para as coisas (para o mundo, para os outros e para si mesmo) a uma certa distância e perguntar-se pelas razões de fazer ou de acreditar nisso e naquilo, isso representa uma “vantagem dentro da evolução, pois implica um novo nível cognoscitivo que tem permitido o desenvolvimento do pensamento instrumental em grande escala. Da linguagem instrumental se entende que tem tido uma função biológica e, uma vez que surgiu, esta estrutura se estendeu por toda a vida humana.” Este parágrafo é quase uma transcrição da reflexão de Ernst Tugendhat, apresentada em Não Somos de Arame Rígido, Ed. Ulbra, 2002.

20. A estrutura noética

Quanto ao tema dos tipos de relações que os seres humanos tem consigo mesmo, com os outros e com a realidade, tem sido lembrado que no caso dos seres humanos, a resposta que damos às situações é sempre uma resposta diferida, alterada, variável, e dependente de um esquema que os filósofos chamam de esquema conceitual ou de estrutura noética (de nous, mente, em grego). Com a linguagem humana surgem aspectos importantes, tais como a condição de perguntar, deliberar, pedir razões, exercer uma capacidade de exame e investigação. Isso pode ser resumido assim: o ser humano tem a condição de poder perguntar por razões, ou, como diria o filósofo Wilfrid Sellars: o ser humano pratica o jogo de dar e pedir razões. Aqui podemos também lembrar o filósofo Peter Geach: “Razões podem ser razões para a crença ou razões para a ação.” Isto quer dizer: nosso comportamento (nossa “etologia”), tanto teórico (o modo como vemos o mundo) quanto prático (o modo como agimos no mundo) tem a ver com nossa estrutura noética, com a teia de nossas crenças e conhecimentos.
No caso do comportamento animal, temos a presença de comportamentos instintivo, que, como já vimos, pode ser caracterizado como um comportamento complexo, que possui um objeto específico, que não é aprendido, é fixo (transmitido hereditariamente), é característico de uma espécie. No caso dos seres humanos, será possível encontrar algum comportamento que tenha essas características?
Podemos continuar com a comparação entre os homens e os animais, ainda inspirados em Aristóteles. Um animal doméstico pode manifestar prazer em ser acariciado e algo parecido acontece com os humanos. Mas um ser humano pode sentir prazer e ao mesmo tempo considerar que não deveria estar sentindo ou fazendo aquilo, que aquilo não é correto, certo ou bom. Com base nisso, podemos distinguir entre a motivação pelo bem e a motivação pelo prazer. E ainda temos que acrescentar que além dessas deliberações de natureza ética ou moral, o ser humano vive no domínio das deliberações sobre o que é verdadeiro ou falso quanto aos fatos do mundo.

18. Etologia

A Etologia é a ciência que se ocupa com o estudo do comportamento social e individual dos animais; na passagem acima Williams está usando a expressão “etologia” em um sentido amplo, para se referir à questão do comportamento humano. É como se ele estivesse perguntando se podemos compreender o comportamento humano apenas com o aparato conceitual da Biologia ou da Genética. Sua resposta, como se vê, é negativa.
No caso dos animais, verifica-se a presença de comportamentos que por vezes são chamados de “instintivos” ou “determinados geneticamente”. Aqui é preciso ter presente uma caracterização mais cuidadosa da expressão “instinto”, que é caracterizado como um comportamento complexo, que possui um objeto específico, que não é aprendido, é fixo (transmitido hereditariamente), e que é característico de uma espécie. O dicionário Houaiss traz a seguinte definição: “(...) padrão inato, não aprendido, de comportamento, comum aos membros de uma espécie animal (as abelhas fazem suas colméias sempre iguais por i.) Psic. esquema de comportamento herdado, próprio de uma espécie animal, que pouco varia de um indivíduo para outro ou no tempo e que parece cumprir uma finalidade. (...)” Tendo presente essas caracterizações, podemos dizer, no caso da etologia dos seres humanos, que existem comportamentos instintivos?

17. Bernard Williams e a etologia humana

Voltemos à pergunta: quais podem ser os aspectos que todo ser humano tem em comum com todo outro ser humano? Uma outra forma de abordar essa questão consiste em perguntar: o que distingue o homem dos outros animais? O que é que distingue a consciência humana da consciência dos animais? Nosso ponto de partida é o fato trivial que o ser humano faz parte do reino animal. Uma das respostas que foi dada para a pergunta sobre a diferença entre os homens e os animais levou em conta a relação com o meio-ambiente. É notório que os animais tem um elevado grau de integração e dependência em relação ao meio-ambiente em que vivem, do ponto de vista climático e alimentar. Pelos, pele, garras, desenho corporal, são relativamente especializados e mantém relações funcionais com o meio-ambiente. A quantidade de comportamentos aprendidos na dimensão ontogenética é espetacularmente pequena quando comparada com o aprendizado humano. Pode-se dizer que as relações dos animais com o meio-ambiente são comandadas por dispositivos de reações; os seres humanos, ao contrário, adaptam-se aos ambientes mais variados. Isto revela, nesse caso, por um lado, uma falta de especialização do nosso organismo, e por outro, uma enorme plasticidade do mesmo; somos capazes, por exemplo, de viver no extremo frio do Pólo Sul e no extremo calor do Saara.
O filósofo Bernard Williams, em seu mais recente livro, refere-se a esse fenômeno da seguinte forma:
“A grande inovação representada pelo Homo Sapiens é a importância do aprendizado não-genético, o qual, com relação tanto à sua natureza quanto aos seus efeitos, assinala uma diferença etológica impressionante entre os seres humanos e os outros animais. Toda espécie tem uma descrição etológica, e o Homo Sapiens não é uma exceção; mas nesse caso, de forma única, não podemos contar nossa história etológica sem introduzir a cultura (considere, por exemplo, o que está imediatamente envolvido ao se responder a questão ‘em que tipo de lugares eles dormem’?). Conseqüentemente, supõe-se que a história vai ser significantemente diferente entre diferentes grupos de seres humanos, e em maneiras que tipicamente envolvem a história; em muitos casos, os seres humanos que estão sendo descritos também estarão conscientes daquela história, em graus variados. Tudo isso se segue das características etológicas peculiares desta espécie”. (Williams, Bernard. Truth and Truthfulness. An Essay in Genealogy. Princepton University Press, 2002.)

16. Ernst Cassirer

Um dos maiores filósofos do século vinte, Martin Heidegger (1889-1976), abordou a pergunta kantiana - o que é homem? – em um livro chamado Kant e o Problema da Metafísica, para discutir a possibilidade de que a filosofia ficasse centrada em torno de uma disciplina cujo nome seria “antropologia filosófica”. A conclusão de Heidegger foi que este projeto, que era discutido nos anos 20 e trinta, na Europa, era vago e impreciso. Heidegger discutiu este tema motivado pelo fato de muitos filósofos, na época (na virada dos anos vinte) escreverem livros de antropologia filosófica:
Ernst Cassirer (1874-1945) é um autor situado na tradição kantiana da escola de Marburgo. Foi professor de filosofia em Berlim e Hamburgo e depois emigrou para os Estados Unidos, fugindo do nazismo. Influenciou a obra de Suzane Langer (1895-1985), por exemplo. Sua obra está situada na tradição kantiana, que procurou ampliar, na forma de uma interpretação do pensamento mítico, histórico, científico, etc.
No Ensaio sobre o Homem, cujo subtítulo é Introdução a uma filosofia da cultura humana, a primeira parte é intitulada exatamente “O que é o homem?”. Cassirer examina as respostas mais conhecidas para esta pergunta, de Nietzsche, de Marx e de Freud. A conclusão dele é que esses autores ofereceram perspectivas particularistas e pouco unificadoras. Essas teorias, diz Cassirer, são como leitos de Procusto, “no qual os fatos empíricos são esticados para amoldar-se a um padrão preconcebido”.(p. 41) Uma teoria unitária para compreender o homem, diz Cassirer, pode ser encontrada mediante uma reflexão sobre o símbolo. Daí o título do segundo capítulo do livro, “Uma chave para a natureza do homem: o símbolo”. Veja essa passagem:
“...no mundo humano encontramos uma característica nova que parece ser a marca distintiva da vida humana. O círculo funcional do homem não é apenas quantitativamente maior; passou também por uma mudança qualitativa. O homem descobriu, por assim dizer, um novo método para adaptar-se ao seu ambiente. Entre o sistema receptor e o efetuador, que são encontrados em todas as espécies animais, observamos no homem um terceiro elo que podemos descrever como o sistema simbólico. Esta nova aquisição transforma o conjunto da vida humana. Comparado com os outros animais, o homem não vive apenas em uma realidade mais ampla; vive, pode-se dizer, em uma nova dimensão da realidade. Existe uma diferença inconfundível entre as reações orgânicas e as respostas humanas. No primeiro caso, uma resposta direta e imediata é dada a um estímulo externo; no segundo, a resposta é diferida. É interrompido e retardado por um lento e complicado processo de pensamento. (pp. 47-8)”
Na passagem acima é importante notar a distinção entre “sinal”, que representa por contigüidade natural, e o “símbolo”, que representa por convenção.

15. Natureza da Antropologia Filosófica

Uma pequena revisão da importância da Antropologia Filosófica pode ser encontrada no ensaio recente de Ernst Tugendhat, “Nietzsche e o problema da transcendência imanente”, publicado no volume Não Somos de Arame Rígido (Edições da Ulbra, 2002), p. 77. Ali ele escreve: “O que significa antropologia filosófica? A antropologia filosófica distingue-se da antropologia enquanto etnologia, que é o estudo de diferentes culturas humanas (em inglês, se chama cultural anthropology). A antropologia filosófica é usada para designar o que é que distingue o homem em geral de outros animais. Talvez uma pergunta tão geral pode parecer exagerada. O homem não existe sempre em condições históricas concretas? Mas esta pergunta geral pelo homem como tal em contraste com suas diferentes condições históricas não é mais extravagante do que a pergunta geral pela moral, pela estética ou pela teoria da ação, em contraste com uma moral particular, etc.” A seguir, Tugendhat indica alguns autores e textos relevantes sobre o tema, e expõe sua posição favorável a uma retomada deste tipo de reflexão. Alguns elementos do que vou expor mais adiante estão claramente inspirados no texto dele.
A Antropologia Filosófica tem um antecedente ilustre na obra do filósofo Immanuel Kant (1724-1804). No seu manual de Lógica, Kant escreve que o domínio da Filosofia, no sentido cosmopolita, deixa-se reduzir às seguintes questões: 1) O que posso saber? 2) O que devo fazer? 3) O que me é lícito esperar? 4) O que é o homem? “À primeira questão responde a Metafísica; à segunda, a Moral; à terceira, a Religião. E à quarta, a Antropologia. Mas, no fundo, poderíamos atribuir todas essas à Antropologia, porque as três primeiras questões remetem à última.” (Lógica, A25)

14. Antropologia Filosófica e Cultural

A natureza da disciplina Antropologia Filosófica e a diferença entre ela e a Antropologia Cultural ou Social não será discutida aqui. A Antropologia Cultural procura descrever como uma determinada comunidade ou indivíduos ou um indivíduo vive, em condições particulares. Ela tem como objeto de estudo as características empíricas das culturas humanas. A Antropologia Filosófica, por outro lado, se ocupa com a discussão das características essenciais do ser humano em geral e de sua diferença em relação a outros seres e, portanto, não depende do levantamento de dados empíricos desta ou daquela cultura particular. A Antropologia Filosófica apenas exige a consideração de certos fatos mais gerais, isto é, aqueles aspectos característicos que podem ser encontrados em qualquer ser humano ou comunidade humana, e que podem ser compreendidos, examinados e aceitos por qualquer pessoa.

Monday, July 03, 2006

14. A descrição telementacional da linguagem

Saussure concebia a fala como seguindo um ‘circuito de fala’: do cérebro (mente) de um falante até a emissão de palavras audíveis, daí até a recepção de sons, seguindo até a mente de um ouvinte e, dada a resposta, tudo de volta": “o ponto de partida do circuito ocorre no cérebro de A, onde fatos mentais (conceitos) estão associados com representações dos sons lingüísticos (imagens acústicas) que são usados para sua expressão. Um dado conceito suscita no cérebro uma imagem acústica correspondente. A esse fenômeno puramente psicológico segue-se, por sua vez, um processo fisiológico: o cérebro transmite aos órgãos da fonação um impulso que corresponde à imagem acústica. A seguir, as ondas sonoras se propagam da boca de A até o ouvido de B, num processo puramente físico. A seguir, o circuito prossegue em B, numa ordem inversa: do ouvido para o cérebro... no cérebro, a associação psicológica da imagem acústica com o conceito correspondente.” Essa descrição “telementacional”é primitiva e problemática, pois depende de uma elucidação dessas relações misteriosas entre “conceito”, “fato mental”, cérebro”, etc. Veja, sobre isso, a crítica de BAKER e HACKER, no livro Language, Sense and Nonsense. A Critical Investigation into Modern Theories of Language. Basil Blackwell, 1985. Há uma tradução do capítulo feita por Ronai Pires da Rocha e Desirée da Mota Roth, publicada na Revista LETRAS/UFSM.

13. O conceito de signo conforme Ferdinand de Saussure, no Curso de Lingüística Geral.

Ferdinand de Saussure (1857-1913) é um dos pais fundadores da Lingüística. Alguns de seus conceitos despertam muito interesse na filosofia, na psicologia, na antropologia. Saussure apresentou a Semiologia quase que ao mesmo tempo que Peirce, mas independentemente. Peirce é filósofo, Saussure é lingüista, e dizia que a Semiologia era uma ciência que abrangeria a Lingüística, e que seria abrangida pela Psicologia. Veja esse trecho:

“A língua é um sistema de signos que exprimem idéias e por isso comparáveis à escritura, ao alfabeto dos surdos-mudos, aos ritos simbólicos, às formas de cortesia, aos sinais militares, etc. Ela é somente o mais importante desses sistemas. Pode-se portanto, conceber uma ciência que estuda a vida dos signos no seio da vida social; esta formaria parte da Psicologia Social e, por conseqüência, da Psicologia Geral. Chamá-la-emos Semiologia. Tal ciência nos ensinaria no que consistem os signos, quais leis os regem. Uma vez que ela não existe ainda, não se pode dizer o que ela será; mas ela tem direito à existência, seu lugar está determinado de antemão.”

Entre os conceitos mais importantes de Saussure, podem ser destacados os seguintes: língua, fala, sistema (paradigma, eixo da seleção), sintagma (eixo da combinação), signo, significante, significado.
Para Saussure, “o signo lingüístico une não uma coisa e uma palavra, mas um conceito e uma imagem acústica”.. O signo lingüístico é, pois, uma entidade psíquica de duas faces...” “Chamamos signo a combinação do conceito e da imagem acústica.” “Propomo-nos a conservar o termo signo para designar o total e a substituir conceito e imagem acústica respectivamente por significado e significante. (p. 80 e ss. da edição brasileira)

12. Uma classificação dos signos, ainda de acordo com Peirce

6. Uma classificação dos signos, ainda de acordo com Peirce
a) Ícone: "Defino um ícone como sendo um signo que é determinado por seu objeto dinâmico em virtude de sua natureza interna". O ícone exibe a mesma qualidade que o objeto denotado. Ex: a onomatopéia, a imagem, o diagrama. Podemos então dizer que há uma relação de semelhança entre o signo e seu objeto. No caso do ícone, o significante tem uma semelhança ou imita o significado. Há alguma similaridade de qualidades entre um e outro. Exemplos: uma fotografia, um desenho, uma caricatura, um modelo em escala, uma onomatopéia, certos efeitos sonoros no rádio e no cinema, gestos de imitação.
b) Índice: "Defino um índice como sendo um signo determinado por seu objeto dinâmico em virtude da relação real que mantém com ele". O índice se encontra em relação de contigüidade com o objeto denotado. Ex: O sintoma da doença, o pingo da chuva, a queda do barômetro, o cata-vento. Na língua, os dêiticos (expressões cujo referente só pode ser determinado em relação aos interlocutores: eu, tu, aqui, agora, etc... No caso do índice, o significante não está arbitrariamente ligado ao significado, e sim tem uma conexão direta com o mesmo, física ou causal. Essa conexão pode ser observada ou inferida. Exemplos: Signos naturais, como a fumaça, trovão, pegadas, ecos, cheiros e sabores naturais, sintomas médicos (dor, pulso), sinais como o do galo do vento, o relógio de sol, batidas na porta, o telefone que toca, o dedo que aponta, uma gravação, marcas pessoais (nossa escrita à mão) e palavras indexicais, como ‘este’, ‘aquele’, ‘isto’, ‘aqui’, ‘eu’, ‘tu’.
c) Símbolo: "Defino um símbolo como sendo um signo que é determinado por seu objeto dinâmico no sentido apenas do qual ele será interpretado". O símbolo se refere a qualquer coisa por força de uma convenção ou ‘lei’. Há, nesse caso, uma relação convencional ou arbitrária entre o signo e seu objeto. Exemplo: as palavras de uma língua natural. No caso dos símbolos, o significante não tem semelhança com o significado. O símbolo é fundamentalmente arbitrário ou puramente convencional. A relação entre significante e significado deve ser aprendida. Exemplos: a linguagem humana, em geral. Números, código morse, luzes e apitos trânsito, bandeiras, etc.

11. O conceito de signo, conforme Charles Peirce

Uma das tantas e boas definições de signo oferecidas por Charles Sanders Peirce (1839-1914) é essa: “Um signo, ou representamen, é aquilo que, sob certo aspecto ou modo, representa algo para alguém. Dirige-se a alguém, isto é, cria, na mente desta pessoa, um signo equivalente, ou talvez um signo mais desenvolvido. Ao signo assim criado denomino interpretante do primeiro signo. O signo representa alguma coisa, seu objeto. Representa esse objeto não em todos os seus aspectos, mas com referência a um tipo de idéia que eu, por vezes, denominei fundamento do representamen (Collected Papers, 5.228).”

10. Sintaxe, semântica, pragmática

Façamos um resumo: a Semiótica (ou Semântica Formal) é o estudo geral dos sistemas simbólicos, entre eles a linguagem. Ou ainda: o estudo dos signos linguísticos. Segundo C. W. Morris, é costume dividir-se a semântica formal em três áreas:
(1) Sintaxe, o estudo das relações entre signos. O estudo dos modos nos quais os signos de uma dada linguagem podem ser combinados para formar expressões bem formadas é uma parte da sintaxe. É o estudo dos signos em suas inter-relações.
(2) Semântica, é o estudo da interpretação dos signos, das relações entre os signos e os objetos a que se aplicam. De acordo com o filósofo Quine, é costume distinguir-se entre a teoria da referência, a qual estuda a referência ou denotação de símbolos, e a teoria do significado, que estuda o sentido ou conotação de símbolos.
(3) Pragmática, é o estudo das relações entre os símbolos, os usuários dos símbolos e e o ambiente dos usuários. É o estudo das relações entre os que utilizam o sistema e o próprio sistema. Assim, é o estudo das condições nas quais um falante usa uma dada palavra é parte da pragmática.

9. Morris, Carnap e a Semiotica

Charles Morris, no livro Fundamentos da Teoria dos Signos, de 1938, dá uma das certidões de nascimento da Semiótica; ela seria um passo importante para um programa de unificação da ciência. Foi a partir dos escritos de Morris que se fixou o vocabulário que designa os principais ramos da semiótica, a sintática, a semântica e a pragmática. A contribuição de Morris, no entanto, logo foi eclipsada pelos estudos de Carnap, que prometiam levar adiante o sonho de unificação da ciência que ambos partilhavam. São de autoria de Carnap as primeiras definições e as investigações mais detalhadas desses ramos da semiótica.
Carnap assim as apresenta: “Se em uma investigação é feita referência explícita ao locutor, ou, em termos mais gerais, aos utilizadores da língua, então tal investigação pertence ao campo da pragmática (se neste caso é feita referência também aos significados ou não, não faz nenhuma diferença para esta classificação). Se fazemos abstração do utilizador da língua e analisamos somente as expressões e seus significados, estamos no campo da semântica. E se, finalmente, fazemos abstração também dos significados e analisamos apenas as relações entre as expressões, estamos no campo da sintaxe (lógica).”
A pragmática, segundo Carnap, consiste no estudo das expressões lingüísticas em relação às intenções do falante, na habilidade lingüística, crenças, audiência e contextos de uso.
Se o falante e o ouvinte são eliminados da cena lingüística, o que permanece é a linguagem e a relação de suas partes à objetos, eventos, aos designata. Esse é o campo da semântica.
No passo abstrativo seguinte removemos os designata e o que nos resta então são as expressões lingüísticas e as relações internas entre elas. Esse é o campo da sintaxe, que pode incluir a gramática das linguas naturais. Com a exclusão da gramática temos a sintaxe lógica.
Cada uma das dimensões pode ser subdividida em ‘pura’ (ou ‘formal’), ‘empírica’ (ou descritiva). Carnap apresenta em primeiro lugar a pragmática e então diz: vamos abstrair o usuário e nos concentrar apenas nas expressões e seus significados; teremos assim o campo da semântica. Se fazemos abstração dos significados, teremos a sintaxe, como estudo das relações entre as expressões. Assim a sintaxe deve ser autônoma em relação às outras duas disciplinas; a semântica deve ser autônoma em relação à pragmática. E a pragmática, por sua vez ? Como diz Carnap, não faz diferença alguma a inclusão ou exclusão do significado das expressões no caso da pragmática.
O que isso quer dizer ? No entender de Marcelo Dascal, “esta assimetria da posição da pragmática, se comparada a da semântica e a da sintaxe, tem conseqüências decisivas para o desenvolvimento do debate em torno da necessidade de se incluir um componente pragmático na teoria da linguagem. A consequência mais importante é que muitos defensores da pragmática, que implícita ou explicitamente se colocam dentro do quadro carnapiano, conceberão a sua defesa como sendo essencialmente um ataque à semântica. Sua estratégia consistirá em demonstrar a necessidade da pragmática através da demonstração da não autonomia da semântica em relação à ela.”
Essa observação de Marcelo Dascal está endereçada aos estudos da lingüística mas pode ser ampliada para a filosofia da linguagem. Basta lembrar que ao apresentar essa divisão da semiótica Carnap esclarece que a pragmática será sempre uma investigação empírica, pois diz respeito ao que acontece com os falantes de uma dada língua. É sobre esta situação inicial da pragmática que se pratica a abstração que possibilitará a elaboração de uma semântica e de uma sintaxe, tanto empírica (no caso do estudo de uma língua ordinária) quanto pura ( no sentido lógico, de linguagens simbólicas artificiais, formais). Carnap não contempla a possibilidade de uma pragmática pura ou lógica pois isso lhe parece um contra-senso.
O livro Fundamentos da Teoria dos Signos foi publicado em 1938, como segundo número do volume 1 da International Enclyclopedia of Unified Science, pela University of Chicago Press. Diz Morris na introdução: “O significado da semiótica como uma ciência reside no fato que ela é um passo na unificação da ciência, já que ela provê as fundações para qualquer ciência especial dos signos, tais como a lingüística, lógica, matemática, retórica e (em alguma medida ao menos) estética.” (Writings, p. 17)

7. A Semiótica

A Epistemologia (ou Teoria do Conhecimento) e a Ontologia (ou Metafísica ou Filosofia do Ser) são disciplinas vizinhas da Filosofia da Linguagem. Uma outra disciplina vizinha é a Semiótica. Vejamos uma definição da mesma, no Dicionário Oxford de Filosofia: “o estudo geral de sistemas simbólicos, incluindo a linguagem.” Assim, essa expressão aponta para um imenso campo de estudos, que inclui não apenas temas típicos da Filosofia da Linguagem, mas estudos sobre cultura, publicidade, moda, enfim, qualquer coisa que possa ser vista como pertencendo a um sistema simbólico.
Na História da Filosofia Moderna existe ao menos uma referência importante à Semiótica, feita por John Locke (1632-1704), em seu "Ensaio Acerca do Entendimento Humano". No final do livro, no Cap. XXI, intitulado “A divisão das ciências”, ele usa a palavra “semiótica” para designar um tipo de ciência, que ele chama de “a doutrina dos sinais”. Locke apresenta três tipos de ciências; a Filosofia Natural ou Física, ou ainda ciência especulativa, que visa o conhecimento das coisas como elas são; a Praktiké, que inclui a Ética, por exemplo, e visa a obtenção de coisas boas e úteis e as condutas corretas; por fim, diz Locke, há uma ciência chamada Semeiotiké, a doutrina dos sinais. Ele segue dizendo que o sinal “mais usual são as palavras, e isto é adequadamente denominado também Logiké, Lógica, cuja função consiste em considerar a natureza dos sinais que a mente utiliza para o entendimento (understanding) das coisas, ou transmitir este conhecimento (knowledge) a outros. Pois, desde que as coisas que a mente (mind) contempla não são nenhuma delas, além de si mesmas, presentes no entendimento, é necessário que algo mais, como o sinal ou representação da coisa considerada, deva estar presente nele, e estas são as idéias. E porque a cena das idéias que formam o pensamento de um homem não pode estar inteiramente aberta à inédita visão de outrem, nem situada em nenhum lugar, a não ser em sua memória, um não muito seguro repositório; portanto, para comunicar nossos pensamentos mutuamente, assim como para registrá-los para nosso próprio uso, sinais de nossas idéias são igualmente necessários; estes, que os homens descobriram ser mais convenientes, e portanto geralmente os usam, são sons articulados. A consideração, pois, das idéias e palavras como os grandes instrumentos do conhecimento não representa aspecto desprezível da contemplação de quem observaria o conhecimento humano em toda a sua extensão. E, talvez, se fossem distintamente pesados e devidamente considerados, nos oferecessem outro tipo de lógica e crítica, diferente daquele com que até agora temos nos familiarizado.”
Preste atenção na forma como Locke pensa a relação entre as palavras e as idéias.

6. Problemas fundamentais

Enumeramos alguns problemas fundamentais para a Filosofia da Linguagem, que ajudam a entender as relações que ela tem com a Ontologia e a Epistemologia, por exemplo. Alguns deles: de que modo um “objeto lingüístico” pode se relacionar com o mundo? Como podemos determinar a verdade ou a falsidade daquilo que é dito? Como o significado de uma frase pode depender de situações (contextos) que não são lingüísticos? Como se dá a relação entre língua e mente (pensamento)?

5. Conceitos fundamentais

Para uma discussão sobre a natureza dos conceitos fundamentais, recomendo a leitura do texto de Ernst Tugendhat, O que é filosofia? Explore também a comparação com a estrutura de um edifício, pensando nas partes que podem ser removidas e alteradas sem que o edifício venha abaixo. Um conceito fundamental, como vimos em aula, é tal que, sem ele, nosso aparato cognitivo vem abaixo. Pense sobre os “experimentos filosóficos” que fizemos: o que ocorreria em nossa compreensão da vida cotidiana se o conceito de “causa” fosse suprimido?

4. Curiosidades fundamentais

A curiosidade humana, no entanto, não pára aí. A vida cotidiana coloca para a criança algumas perguntas que as disciplinas até aqui mencionadas não tem o compromisso de enfrentar. Vejamos um exemplo. O professor de Matemática não precisa responder perguntas sobre a natureza dos números nem sobre outras aplicações do conceito de “infinito”; o professor de Ciências não precisa dar conta dos limites de aplicação do conceito de causalidade, que é indispensável em suas aulas, e que os alunos aplicam em áreas e objetos nem sempre adequados. Assim, surge a questão sobre se o espaço de formação escolar tem o compromisso de acolhimento de certas curiosidades – um certo gênero de curiosidade - que não são contempladas por nenhuma das disciplinas particulares usuais. Essas curiosidades dizem respeito a certos conceitos fundamentais que estão presentes nas atividades cognitivas.

3. Explorações e disciplinas

Para melhor situar a temática da Filosofia eu propus um esquema de classificação das disciplinas escolares (que pode ser aplicado para as ciências como um todo) que está baseado na idéia de que elas dizem respeito aos esforços humanos que visam dar conta das nossas curiosidades mais legítimas, de nossos mais legítimos anseios de compreensão e conhecimento da realidade. Nesse sentido, as disciplinas da área de Ciências Naturais – Física, Química, por exemplo – visam dar conta de como o mundo é, de como o mundo funciona, por assim dizer, sem as gentes. A Matemática fica num grupo especial, talvez junto com a Lógica, pois ela parece nada ter a ver com o mundo. Tudo o que um matemático precisa, para fazer sua ciência, é de lápis e papel, e em nenhum sentido relevante se pode dizer que o matemático precisa examinar o mundo natural ou o comportamento das pessoas. As disciplinas escolares como as Sociais e Humanas – Sociologia, História, Geografia – operam em uma outra esfera de nossa curiosidade. Elas visam dar conta de como o mundo é, com as gentes e com a gente. Os estudos de Psicologia, nesse sentido, ocupam uma espécie de espaço intermediário entre esses dois grupos, na medida em que oferece ao jovem uma discussão sobre como a(s) gente(s) funciona(m). Podemos dizer, nesse sentido, que as ciências naturais e humanas pertencem a uma e mesma área geral, a um mesmo interesse básico, que é o da compreensão do mundo, em sentido amplo: mundo natural, mundo social-histórico. A diferença importante, em todo o caso, é que no caso da compreensão do mundo social-histórico estamos pessoalmente implicados. Na aula de Educação Física o aluno pode explorar sua corporeidade; nas disciplinas de Artes o estudante explora suas capacidades expressivas.

2. Ser e dever-ser, saber e fazer

A Filosofia da Linguagem é uma disciplina teórica. Em Filosofia essa palavra é usada em par com uma outra, “prática”, mas o significado delas tem pouco a ver com os usos cotidianos. No nosso caso, a explicação mais usual consiste nisso: disciplinas teóricas tratam do “ser”, disciplinas práticas tratam do “dever-ser”. Isso é pouco esclarecedor para um iniciante, por certo.
Há quem diga que os verbos – saber e fazer - indicam as duas grandes áreas da Filosofia. “Saber” aponta para as perguntas sobre o conhecimento humano: suas características, condições, limites, possibilidades; junto a esse verbo, temos muitos outros: acreditar, pensar, julgar, etc. Trata-se aqui da “Filosofia Teórica”. Disciplinas típicas da filosofia teórica são a ontologia e a epistemologia. O verbo “fazer” aponta para perguntas sobre o agir humano e as questões correlatas: imputação, responsabilidade, intenção, etc. Esse é o lado “prático”. Disciplinas típicas da filosofia prática são ética e estética.