Monday, July 10, 2006

26. Nota sobre "verdade"

Um dos tópicos mais discutidos na Filosofia é sobre a “verdade”. A abordagem que estamos fazendo nas aulas de Filosofia da Linguagem não consiste em perguntar por uma definição dessa palavra. O caminho que escolhemos consiste em perguntar sobre que tipo de coisa costumamos dizer ou chamar de “verdade”, “verdadeiro”. Quando fazemos essa abordagem, evitamos a armadilha de pensar que “verdade” é um certo tipo de coisa, uma entidade misteriosa, que pode existir ou não.
Uma resposta possível consiste em dizer que verdadeiras ou falsas são as sentenças ou orações de uma língua natural. Mas “oração” e “sentença” são conceitos da gramática normativa de uma língua natural, e se dizemos que a verdade é uma propriedade das orações estamos transportando o problema filosófico da verdade para o nível lingüístico. Como vimos em aula, uma oração da língua portuguesa, bem formada sintaticamente, não pode ser, por si só ou em si mesma, nem verdadeira nem falsa. Na verdade, quando uma sentença é considerada isoladamente, nem sempre sabemos como compreendê-la, em razão da ambigüidade, por exemplo. “Voar aeronaves pode ser perigoso” é uma frase que pode significar que ser piloto é uma profissão de risco ou que os aviões pode ser perigosos quando estão voando. Por outro lado, quando uma pessoa, um uruguaio, em Rivera, diz, em castelhano, que está chovendo e seu amigo de Santana do Livramento, ao seu lado, diz em português que está chovendo, ambos disseram “a mesma coisa”, em línguas diferentes, ambos falaram a verdade, pois está chovendo, mas a verdade do que disseram nada tem a ver com a língua castelhana ou com a língua portuguesa.

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