Wednesday, July 05, 2006

23. Filosofia da Linguagem e Epistemologia.

Os temas da Filosofia da Linguagem fazem fronteira com outras áreas da filosofia, como a Ontologia e a Epistemologia. Vejamos um dedo de prosa sobre a fronteira com a Epistemologia. Conceitos centrais na Epistemologia são os conceitos de crença e conhecimento. A maior parte dos filósofos considera-os como sendo estados ou disposições da mente. O filósofo Quine, no livro A Teia da Crença, escreve:
“Acreditar não é uma ação. Acreditar é uma disposição que pode permanecer latente e não observada. É uma disposição de responder de certas formas quando o tema apropriado surge. Inculcar uma crença é como carregar uma bateria. A crença, como a carga, pode durar bastante ou pouco. Gramaticalmente, o verbo “acreditar” é transitivo, como chutar ou dirigir. Dizemos “Ele acreditou naquilo” da mesma forma como dizemos “ele chutou-a”, “Ele dirigiu-a (a moto). Esta circunstância poderia nos tentar a pensar a crença como uma ação, coisa que ela não é. Mas ela pode ainda levantar uma questão filosófica sobre a natureza dos objetos da crença. O objeto chutado pode ser uma bola ou um asno. O objeto que dirigimos pode ser um carro ou um asno; mas qual o tipo de objeto em que acreditamos? Evidentemente, é algo intangível. É algo nomeado mediante a prefixação da palavra “que” a uma sentença subordinada.
Acreditamos que Aníbal atravessou os Alpes.
Acreditamos que Netuno é um planeta.
Que tipo de coisa é essa coisa acreditada - que Anibal atravessou os Alpes? Parece enganoso dizer que é apenas a própria sentença. Afinal, alguém que não fala português pode acreditar na mesma coisa. E se acreditamos que uma determinada sentença afirma algo verdadeiro, qual a natureza dessa coisa que estamos acreditando?”
O que é acreditar em uma sentença? E o que é a sentença que dizemos acreditar? Há uma relação muito especial entre crença, sentenças e “verdadeiro e falso”. Veja como o filósofo Arthur Danto introduz esse tema:
“Uma crença não é um mero estado da mente ou da alma, uma marca inerte. Quando um homem acredita em algo, ele está disposto, geralmente, a agir de uma certa forma, ou em certas formas. Se acredito que minha filha está em perigo, não se trata de uma questão de dar uma resposta afirmativa para a pergunta sobre se eu acredito que minha filha está em perigo. Toda minha maneira de agir está implicada, e todas as minhas crenças fatuais relevantes são ativadas. Se eu sei que ela não corre perigo, mas mesmo assim me comporto como se estivesse, minhas ações estão em descompasso com os fatos. Isso, porém, para começar, desmorona todo o propósito de ter crenças. Uma crença é tão boa ou tão ruim quanto outra se não vamos nos importar se ela se ajusta aos fatos como os conhecemos. Nesse caso não vamos mais considerar a verdade ou a falsidade como relevantes para nossas crenças. Mais uma vez, porém, não fica claro o significado de ter uma crença se consideramos que sua verdade ou falsidade não são relevantes.” (Danto, Arthur. Crenças Fatuais e Regras Morais. In: Misticism and Morality).
Ser verdadeira ou ser falsa é uma propriedade de sentenças, e não de coisas.
A questão da relação entre Linguagem e Epistemologia é bastante complexa. Em Epistemologia há sempre um grande capítulo para a discussão do conhecimento proposicional. O “conhecimento proposicional” é aquele que pode ser expresso na continuação de uma frase do tipo “Eu sei que p”, isto é, em uma sentença descritiva ou informativa em língua natural. Como se relacionam conceitos como crença, linguagem, informação, proposição?

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